domingo, 21 de junho de 2015

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Há muito acostumado com o eco dos passos de seu caminhar solitário, não soube identificar  aquilo que chegava aos seus ouvidos. Lhe soava  familiar, provocava ondas de calor, não que as sentisse com o corpo, mas com a mente, com o espírito. Algo o impulsionava a deixar sua inércia, porém olhos fechados não lhe permitiam ver a escuridão à sua volta. Assim resta a escolha: Qual delas escolher, a própria ou a do mundo?

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Cria de sentidos



Do primeiro raio de luz à penumbra que tudo permeia.
De todo toque que seduz e  toda dor que se semeia.
De suaves melodias e prantos desesperados.
Do perfume das pradarias ao aroma dos condenados.
Oras doce como mel, tantas outras puro féu.

Pura cria de sentidos, tateia o mundo e nada sente.
Pura cria de sentidos, almeja todos os sabores, mas sua língua mente.
Pura cria de sentidos, chora aos quatro cantos e nem o eco lhe alcança.
Pura cria de sentidos, fareja o próprio medo na ausência de esperança.
Pura cria de sentidos, à eterna espreita no horizonte, onde nada chega à sua vigília, senão as sombras da verdade.

sábado, 30 de maio de 2015

A voz e o silêncio

O que ouvia ao escrever.

Como primeira postagem achei que seria interessante falar sobre meu ponto de vista sobre comunicação e toda essa noção de transmitir ideias, bem como a maneira que enxergo isso. O.K., mas quem é você, e que importância tem sua opinião? Sou mais um (podia ser você, já que você sou eu em um universo diferente e vice-versa) e importância é algo bastante subjetivo, assim como alguém julga o resultado da última partida de futebol como algo de extrema importância e eu, pessoalmente, prefiro saber quando sai o próximo livro do Martin.

Dito isso, quero apontar que o simples e incrível ato de nos comunicarmos passa despercebido como trivialidade cotidiana, mas reflita: Quais tarefas são possíveis sem que nos comuniquemos? Muito provavelmente você pensará em algo que requira ação individual, exclusivamente. Seja em colmeias, ninhos de formigas ou em metrópoles, a comunicação (química, verbal ou escrita) faz-se essencial. Uma vez que o outro tem conhecimento de seus anseios e objetivo, ele é capaz de julgar quais repercussões o afetarão, e, caso lhe seja interessante, pode contribuir com a tua causa.

Entretanto, sobretudo no momento atual, talvez em razão dessa facilidade crescente, todos se sentem compelidos a expôr constantemente o que pensam sobre toda e qualquer coisa, fazendo pouco ou nenhum juízo sobre o que expõem. Eu, inclusive, por vezes me enquadro nessa categoria, quem nunca? Mas acredito que é um hábito que deve ser combatido. Nem toda mensagem é benéfica, nem toda mensagem é relevante, nem todo ouvinte é receptivo.

Assim chegamos ao valor do silêncio. Desde sempre eu nunca entendi o motivo real do desconforto que a maioria das pessoas sente ao estar em grupos e não ter nada a dizer. Na verdade é até um tanto divertido observar essa necessidade de preencher o silêncio com qualquer coisa: piadas (de gosto duvidoso), causos da vida alheia e o clima, é claro, são assuntos comuns. Não digo que puxar assunto seja algo ruim, não. Sou contrário à pressão social de ter de estar constantemente dizendo algo, mesmo quando não se quer e/ou não se tem nada a dizer. O silêncio bem empregado pode transmitir muito mais que qualquer palavra, especialmente emoções realmente intensas: um amor que se sente apenas no olhar ou a dor do luto que se compartilha em um abraço.


Eros e Tânatos

A palavra e o silêncio têm em meu panteão iguais níveis de santidade, a primeira me permite conhecer o outro, enquanto o segundo me permite conhecer a mim mesmo